22 de mai. de 2009

Vida do Brasil



Acho que isso bate em todo imigrante. Uma bela noite romana, os brothers todos com as namoradas e eu sem carro, sem grana, sem vontade de forçar a cabeça pra falar italiano. Balbuciar italiano. Estragar o idioma, so com frases simples, mal pronunciadas. Nada parece estar dando certo. Sozinho. Longe. Sinto o lado negro da força avançando.

Sair, andar a esmo, girar pela vizinhança, qualquer coisa, menos entrar no msn ou ficar sozinho em casa. Pego a Via Prenestina e caminho quase 2 kilometros, pensando nas coisas boas que poderia estar fazendo no Brasil, pensando na maldita idéia de largar toda a minha estrutura de vida pra trás, na grandessísima imbecilidade de pensar que talvez eu poderia viver melhor na Europa do que Brasil. Eu sou o tipo que se arrepende. Não pego minhas decisões e carrego a vida toda com certeza quase divina. Eu reclamo, eu repenso... Ai, que cagada.

E meus brothers, meu celular cheio de números, possibilidades, a casa da vó ali pertinho da Av. Paulista. Lembrei da lanchonete do estadão aberta 24 horas com aquele lanche de pernil suculento e delicioso a qualquer momento da madrugada. Ansiedade, tristeza... E a via Prenestina quase acabando, terminando numa praça, onde pude avistar um bando de gente... Gente em pé, se divertindo, falando, bebendo. Falando alto e com as mãos, sem medo de ser inconveniente. Autênticos. Chatos.

Malditos. Como podem estar tão felizes? Eles tomam essa breja amarga, forte demais, nem devem conhecer a nossa, brazuca, leve, deliciosa, geladissima... Ah, e os butecos da Vila Madalena? Breja de garrafa, mesa de plástico na calçada... Putamerda. Caralho. Cazzo. Coglione. Ansiedade, angústia, saudades. Estou no perto da Via del Pigneto. Longe.

E eles aqui, indiferentes, vivendo suas vidas. Realmente, foda demais. Resolvi voltar pra casa. Vou ficar no youtube sim, desenhar, ou coisa que o valha. Toda essa felicidade alheia me faz mal. Mas, antes um 360° na pracinha tosca. Uma chance de me cansar mais e praguejar em paz contra a humanidade. E heis que ali, do outro lado, uma placa amarela se destaca da paisagem monocromática. Sim, amarela, e com letras verdes... E putaquepariu! Sim, escrito em português, claríssimo: Vida do Brasil!

Vamos lá, não é possível, não estou sonhando... Conforme me aproximo, posso distinguir uma bandeira do Brasil ali dentro, e uma geladeira, cheia de cerveja. Cerveja Brasileira. Skol. Paro, sem entrar. Observo. Vejo a italianada se aglomerando na fila da caipirinha de 5 euros. Paro, ainda fora.

Penso se é verdade, ou se possívelmente estou imaginando. Sim, sou pessimista, não posso me dar por feliz assim tão facilmente. Estou ainda parado na frente do Bar, e começo a reparar nos detalhes... tem Guaraná, tem 51, tem Velho Barreiro, tem um berimbau, saquinhos de feijão, tem havaianas, tem até uma mulher do lado de dentro do balcão com cara de brasileira.

Sim, sou pessimista, mas não cego. Realmente, o destino esta do meu lado. Entro, lentamente, um passo de cada vez, sentindo o ambiente... a música, o zeca pagodinho emanando da gigantesca TV. Começo a deixar a angústia de lado e entro na fila. Uma sensação de descompressão, relaxamento. Um a um, os italianos subitamente me parecem mais amistosos. Eles amam o Brasil. Eles querem uma caipirinha. Eles tentam sambar. Chega minha vez no balcão, e quem me atende é um coroa de seus 50 anos, branquelo. Estou em silêncio respeitoso, dentro de uma área sagrada. Fé pra caralho. Sem saber o que dizer, nem em qual idioma.

- Prego! - Diz me o coroa.

- Senta... Io vorrei una birra brasiliana. - respondo eu, em italiano tosco.

- Skol, Nova Skin...

- La Skol va beníssimo.

- Aspelta... Pronto! - E o coroa me traz o santo graal, gelado, lindo, brilhante. Sim, eu me recordo da garrafa emanando luz.

Uma pausa dramática. Uns 2 segundos de silêncio. Silêncio daqueles que pesam nos ouvidos.

- Mah...Scusa me, dai... Mas se essa skol não estiver geladíssima eu não tomo, firmeza? - Prontofalei.

O tiozão subitamente também se iluminou.

- Mas você é brasileiro! Porque não disse! E de São Paulo né? Nisso já chamou a mulher ao lado: Olha um brasileiro aqui, paulista! Ela, e o bar inteiro me olham, com uma certa reprovação. Sim, pois como é possivel um brasileiro assim, tão bem camuflado entre eles? E ele nem está tentando sambar? Nem os pezinhos no ritmo da música?

Cumprimento a moça, ignoro todo o resto, pago minha skol, viro as costas, saindo respeitosamente em silêncio. Definitivamente, um milagre. Esses fenômenos que Deus manda na nossa vida, pra que não nos esqueçamos Dele. E eu saboreando cada gota daquele maravilhoso presente do destino.

Vida do Brasil. Pensando em como pode uma cerveja e três palavras em português fazerem tanto bem a um brazuca longe de casa. E a garrafa agora enfeita meu quarto, tal e qual um santo graal em cima da estante.

E segue o link, pra que não me acusem de estar inventando ou dando falso testemunho:
Bar Vida Do Brasil.


Blog: Pé na Bota

Um comentário:

K disse...

MINHA SOGRA TAMBEM LARGOU TUDO E ESTA POR ESSAS BANDAS
É SAUDADE DE LÁ, SAUDADE DAQUI, SINTO QUE MEUS FILHOS CRESÇAM LONGE DELA, MAS NTENDO QUE CADA UM FAZ A SUA ESCOLHA

VC VAI VER QUE O FINAL DE SEMANA ABRANDARÁ TUDO
BEIJINHO