16 de ago. de 2006

Gente, por favor....



Addio! Goodbye! Farewell... Hasta la vista baby, JAMAIS!!


ESTAMOS DEIXANDO A ITÁLIA. VIVA A SUÉCIA!

A frase é assim mesmo breve, mas por traz disso tudo um furacão de acontecimentos que nos fez definitivamente tomar a decisão de deixar esse país. As razões são muitas e devido a sucessivas frustrações vimos que a melhor alternativa pra vivermos como cidadãos de verdade era essa.

Nos últimos meses várias coisas colaboraram pra nossa decisão. Começou com um Contrato de Parceria Civil e Sociedade de Fato que desde o novo código civil brasileiro já é possível ser feito por casais gays no Brasil, embora não seja união civil em se tratando de inexistencia de regulamentação específica na Constituição Federal. Porém uma alternativa que pode ajudar muito a assegurar os nossos direitos.

Bom, pagamos um advogado em São Paulo que o fez retroativo e cobrindo tudo que precisamos e todos os direitos de qualquer casal, e ainda seria possível, caso quiséssimos, pedir o visto de permanência brasileiro pro Roberto.
Recebemos o contrato, assinamos e levei no Consulado Brasileiro pra reconhecer a minha firma o que foi feito de forma simples e rápida.

Já a parte do Roberto... dai começou a nossa novela O cartel-máfia NOTAIO della Terra Nostra, que em resumo da obra foram várias tentativas mal sucedidades de APENAS reconhecer a firma do Roberto, mais nada. Apenas ver que aquele fulano que assina é mesmo o dono da sua assinatura!
Como o nosso conhecido está de férias --- e aqui sem conhecido, padrinho, recomendação e todo esquema mafioso que é enraizado na cultura não se caminha --- vimos que teríamos que esperar a sua chegada em setembro pra tentar mais uma vez ter mais um direito reconhecido.

Os dias se passaram e chegou mais um ano em que teria de renovar meu visto de estudante --- única forma legal de me fazer entrar no bel paese, talvez seria mais fácil chegar de barca e viver clandestinamente pra depois receber o indulto, mas enfim, fomos até a Questura com alguma antecedência e conforme tinha sido dito no ano anterior era disponível um serviço de agendamento por SMS. Era só enviar uma mensagem via telefone celular pro número indicado escrevendo o número do permesso di soggiorno. Bom demais pra ser verdade, se funcionasse!

Mandei e como todos os outros imigrantes recebi uma mensagem padronizada dizendo pra comparecer na data da expiração do visto ou 1.o dial útil após, caso já estivesse expirado.

Fomos e ao chegar deparamos com uma fila de 400 pessoas e a resposta de que a minha mensagem tinha sido enviada muito tarde, eu deveria tê-la enviado com 90 dias de antecedência, mas em nenhum momento essa informação foi comprovada por escrito, nem mesmo no site da Questura ou nos avisos afixados no portão. Então qual seria nossa surpresa? Voltar mais uma vez e ter que passar a noite do lado de fora pra conseguir pegar a ficha vermelha que possibilitaria o atendimento no dia seguinte. Quase uma loteria já que distribuem menos de 50 entre 400, 500 pessoas. Igual exatamente igual ao ano passado! Mas porque esse tratamento? Por que eu não sou cidadão da comunidade européia que tem horário diferenciado, nem jogador de futebol ou cidadão americano que trabalhe em empresa credenciada à Questura.

Saímos de casa às 23:45 h da noite. Chegamos lá por volta de meia-noite e vinte. Éramos o 35ésimo na fila organizada pelo senhor romeno de cabelos brancos. Passamos mais de nove horas em pé com chuva, gritarias, brigas de socos e pontapés. Alguns que furaram a fila na cara-de-páu. Chamamos a polícia que veio no meio da madrugada. Passou de fininho e assim mesmo saiu. Às 8 h da manhã a chamamos novamente. Veio os dois primeiros policiais. Deram uns gritos, debocharam, cassoaram de tudo e de todos. Chamaram outros colegas. Vieram, deram uma olhada e sairam pra tomar um café.

As 08:30 h abriram os portões. Disseram que seriam poucos números. Reclamamos que estávamos ali a noite toda. Um policial italiano disse: "- Sinto muito como pessoa, mas como policial NÃO".

Em meio aos gritos dos políciais seguimos em fila por entre as barretas de aço que nos separavam. Parecia ou abatedouro, ou um campo de concentração. Estavámos lá na fila. Chegou o número 35 da fichinha vermelha. O policial diz:

"- O número acabou. Não vamos atender mais ningúem. Podem voltar outro dia." E nós lá, incrédulos, depois de passar uma noite inteira em pé, sem dormir, exaustos, feridos na alma pelo horror, vergonha e falta de respeito. Pela falta de humanidade.

NÃO CONSEGUI RENOVAR MEU VISTO. Não sou clandestino. Tenho visto de estudante. Pagamos pra estar aqui. Passei por uma análise e aprovação do Consulado Italiano no Brasil. Temos seguro bancário que nós custou muito! Mas mesmo assim, nada funciona, nem funcionará somente as boas massas, as pizzas, a história, o belo look D&G, a falta de educação, o trânsito displicente, o jeito esperto do mais 'furbo', a desorganização: o modo all'italiana.


Blog: Fora do Armário

3 comentários:

Anônimo disse...

Fico muito chateado qdo leio estas coisas. Infelizmente os imigrantes,ilegais ou não,são sempre olhados de forma diferenciada...
Muita sorte a vc
Abração!

Paulo Nunes Jr disse...

O problema que as coisas na Itália funcionam mal até mesmo pros italianos. Imagine pra um imigrante então... sem vem do Brasil e 2 X pior, bem mais pior ainda se for do Leste Europeu ou da Africa.

Anônimo disse...

Que que vc tá fazendo aí ainda?